A notícia seguinte era sobre uma chacina num bar em São Paulo. Foi a gota d'água.
― Chega! ― ele se indignou. Eu vou pôr fim a toda essa violência!
E, desligando o televisor, foi até seu quarto, vestiu uma fantasia de Batman de carnaval e saiu.
Faça uma narração em que o trecho acima seja inserido de forma coerente e cujo desfecho seja cômico.
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A
Liga da Justiça
Marcelo Ferreira de Menezes
A
televisão estava alta e exibia as notícias policiais do dia naquele
fim de tarde. Ele parou em frente à tela e passou a acompanhar com
atenção os fatos mais escabrosos ocorridos em sua cidade e no
Brasil. A voz do apresentador do telejornal, carregada de comoção,
tingia com tonalidades mais rubras os crimes de roubo, sequestro,
assassinato e tudo o mais que escandaliza os cidadãos. A notícia
seguinte era sobre uma chacina num bar em São Paulo. Foi a gota
d'água.
― Chega!
― ele se indignou. Eu vou pôr fim a toda essa violência!
E,
desligando o televisor, foi até seu quarto, vestiu uma fantasia de
Batman de carnaval e saiu. Saiu é apenas força de expressão: ele
deixou o apartamento pela janela.
Nesse
mesmo instante, passava pela rua uma patrulha ocupada por dois
policiais. O que dirigia cutucou o companheiro:
― Começamos
bem a ronda. Olha só aquilo ― e apontou, com o dedo, o Batman
improvisado se esgueirando com dificuldade por uma marquise.
No
apartamento, uma senhora teve de interromper seu banho para atender à
campainha que tocava nervosa e insistentemente.
― Ô,
diabo de homem inútil! Por que não atende logo? ― e veio ela se
enrolando no roupão pelo corredor. ― Já vou! Já vou! ―
repetiu, vendo que a campainha não se calava.
Era
o porteiro, na companhia dos dois policiais que, havia instantes,
patrulhavam a rua. Ela se assustou.
― É
o seu Osvaldo, Dona Ciça. Ele está lá na marquise de novo ―
comunicou o porteiro, com uma
cara desanimada.
Depois
de um certo trabalho para resgatar o herói desastrado, os policiais
foram embora, não sem antes aconselhar Dona Ciça a colocar uma tela
de proteção nas janelas.
― Por
sorte o apartamento fica no primeiro andar e dá para a marquise, mas
é sempre bom prevenir ― reforçou um dos policiais.
Na
poltrona, magro, frustrado e com um abatimento no olhar, o Batman, ou
melhor, seu Osvaldo, encolheu-se ainda mais na folgada fantasia cinza
e preta, que apenas ressaltava a agudeza de seus ossos. A máscara
orelhuda lhe aumentava o ridículo.
― Bonito,
né, Osvaldo? ― repreendeu Ciça. ― Você não tem conserto!
Chamar a atenção assim desse jeito pra nós! O que é que os
vizinhos vão dizer? Eu já falei! Você está velho! Isso é coisa
que se faça?
E
depois de passado o sermão, ela foi para seu quarto para acabar de
se arrumar.
Voltou
de lá bastante diferente. Encarando Osvaldo, Ciça se esforçava num
olhar sedutor.
― Você
não dá mais para isso, Bruce ― ela disse com languidez na voz.
Mas eu ainda estou em forma, não é? Que tal estou?
― Linda...
― respondeu com rouquidão o agora risonho Batman. Linda como
sempre... Mulher Maravilha!
Dona
Ciça ajeitou na cabeça a tiara de plástico dourada, orgulhosa com
o que ouvira. E, em sua fantasia desbotada e alguns bons números a
menos de seu manequim, ela, altiva, anunciou:
― O
jantar está no fogão! Agora, tenho uma cidade inteira para
proteger! Mas antes tenho de achar onde estacionei meu avião
invisível!
E
saiu porta afora, em disparada pelo corredor do prédio.