Narrativa cômica (Em 22/10/13)

Tema:  
             A notícia seguinte era sobre uma chacina num bar em São Paulo. Foi a gota d'água.
― Chega! ― ele se indignou. Eu vou pôr fim a toda essa violência!
E, desligando o televisor, foi até seu quarto, vestiu uma fantasia de Batman de carnaval e saiu.

Faça uma narração em que o trecho acima seja inserido de forma coerente e cujo desfecho seja cômico.


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A Liga da Justiça
Marcelo Ferreira de Menezes

A televisão estava alta e exibia as notícias policiais do dia naquele fim de tarde. Ele parou em frente à tela e passou a acompanhar com atenção os fatos mais escabrosos ocorridos em sua cidade e no Brasil. A voz do apresentador do telejornal, carregada de comoção, tingia com tonalidades mais rubras os crimes de roubo, sequestro, assassinato e tudo o mais que escandaliza os cidadãos. A notícia seguinte era sobre uma chacina num bar em São Paulo. Foi a gota d'água.
Chega! ― ele se indignou. Eu vou pôr fim a toda essa violência!
E, desligando o televisor, foi até seu quarto, vestiu uma fantasia de Batman de carnaval e saiu. Saiu é apenas força de expressão: ele deixou o apartamento pela janela.
Nesse mesmo instante, passava pela rua uma patrulha ocupada por dois policiais. O que dirigia cutucou o companheiro:
Começamos bem a ronda. Olha só aquilo ― e apontou, com o dedo, o Batman improvisado se esgueirando com dificuldade por uma marquise.
No apartamento, uma senhora teve de interromper seu banho para atender à campainha que tocava nervosa e insistentemente.
Ô, diabo de homem inútil! Por que não atende logo? ― e veio ela se enrolando no roupão pelo corredor. ― Já vou! Já vou! ― repetiu, vendo que a campainha não se calava.
Era o porteiro, na companhia dos dois policiais que, havia instantes, patrulhavam a rua. Ela se assustou.
É o seu Osvaldo, Dona Ciça. Ele está lá na marquise de novo ― comunicou o porteiro, com uma cara desanimada.
Depois de um certo trabalho para resgatar o herói desastrado, os policiais foram embora, não sem antes aconselhar Dona Ciça a colocar uma tela de proteção nas janelas.
Por sorte o apartamento fica no primeiro andar e dá para a marquise, mas é sempre bom prevenir ― reforçou um dos policiais.
Na poltrona, magro, frustrado e com um abatimento no olhar, o Batman, ou melhor, seu Osvaldo, encolheu-se ainda mais na folgada fantasia cinza e preta, que apenas ressaltava a agudeza de seus ossos. A máscara orelhuda lhe aumentava o ridículo.
Bonito, né, Osvaldo? ― repreendeu Ciça. ― Você não tem conserto! Chamar a atenção assim desse jeito pra nós! O que é que os vizinhos vão dizer? Eu já falei! Você está velho! Isso é coisa que se faça?
E depois de passado o sermão, ela foi para seu quarto para acabar de se arrumar.
Voltou de lá bastante diferente. Encarando Osvaldo, Ciça se esforçava num olhar sedutor.
Você não dá mais para isso, Bruce ― ela disse com languidez na voz. Mas eu ainda estou em forma, não é? Que tal estou?
Linda... ― respondeu com rouquidão o agora risonho Batman. Linda como sempre... Mulher Maravilha!
Dona Ciça ajeitou na cabeça a tiara de plástico dourada, orgulhosa com o que ouvira. E, em sua fantasia desbotada e alguns bons números a menos de seu manequim, ela, altiva, anunciou:
O jantar está no fogão! Agora, tenho uma cidade inteira para proteger! Mas antes tenho de achar onde estacionei meu avião invisível!
E saiu porta afora, em disparada pelo corredor do prédio.