A elaboração do texto dissertativo (Final) - Em 26/03/2011


Bem, na postagem anterior, tendo como foco de análise o tema medo da velhice, estudamos o parágrafo da introdução do texto dissertativo. Para tanto, adotamos o esquema básico de dissertação, retirado do livro Técnicas básicas de redação, editora Scipione, 1996, da autora Branca Granatic. Esse esquema, adotado na apostila do Curso de Redação da (*), é de fato muito útil, pois possibilita a quem escreve organizar as ideias, de modo a manter-se fiel ao tema, respeitando a estrutura da dissertação e garantindo a informatividade do texto.
Vimos que a introdução deve conter a apresentação do tema com o posicionamento explícito, acompanhado de três argumentos que o fundamentem. Essa técnica ajuda não só quem escreve, mas também quem lê, pois ambos já sabem, apenas com a leitura do primeiro parágrafo, que informações o texto deverá conter e em que ordem elas deverão aparecer.
“Mas, então, pra que escrever mais?”, você pode se perguntar. Pelo simples fato de que o objetivo principal de uma dissertação é convencer pelos argumentos. Como na introdução eles foram apenas citados, é preciso desenvolvê-los, explicá-los melhor, desmembrando-os em ideias secundárias, porém estreitamente relacionadas a eles.
Por esse motivo, os argumentos devem ser cuidadosamente selecionados, a fim de que sejam relevantes, pertinentes, coerentes e suficientemente desenvolvidos. É nesse momento que pesam o conhecimento e a análise crítica que se têm do assunto.
A seguir, serão transcritos os dois textos na íntegra. O primeiro, “A vitória da Natureza”, aponta argumentos para não se temer a velhice. O segundo, “Formas de autoengano”, apresenta, portanto, as razões pelas quais devemos temê-la.

Rigorosamente redigidos de acordo com os parâmetros do esquema básico, ambos os textos contêm cinco parágrafos, dos quais o primeiro equivale à introdução, o segundo, o terceiro e o quarto referem-se, respectivamente, aos três argumentos citados na introdução e compõem o chamado desenvolvimento e o quinto e último destina-se à conclusão.
Propositalmente concebidos com posicionamentos opostos a respeito de um mesmo tema, os textos se valem de informações em comum, mas obviamente organizadas de maneira diferente, pois os argumentos têm de ser contrários. Para ajudá-lo a visualizá-los com mais clareza, eles foram destacados nos textos com cores diferentes. Em A vitória da Natureza, os argumentos que sustentam o posicionamento adotado estão em verde; os trechos em azul equivalem, portanto, aos argumentos contrários, que são justamente os utilizados para defender o posicionamento em Formas de autoengano.

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A vitória da Natureza
Prof. Marcelo F. de Menezes

De uma maneira geral, todos temem o envelhecimento. Isso é algo perfeitamente compreensível, uma vez que ele pressupõe mesmo uma acentuada e irreversível degeneração física, assinalando que o indivíduo talvez se encontre mais próximo da morte. Contudo, apesar de todos os problemas a que estão sujeitos os idosos, (1) essa é uma fase de maturidade espiritual, de consolidação do conhecimento e valorização da experiência; (2) é uma fase na qual pode haver, sim, felicidade, pois ser feliz é uma opção que independe de idade. Além disso, (3) todo temor é uma fuga, e não se pode fugir do envelhecimento; o melhor é assumir desde cedo uma atitude preventiva, criar bons hábitos, para que se esteja preparado para quando, e se, essa fase chegar.
Quando jovem, o ser humano passa por uma série de desafios para a construção e para o estabelecimento de sua personalidade diante do mundo. A insegurança e o medo são inimigos presentes a todo instante. Muitas dúvidas surgem nessa fase, e é apenas normal que erros sejam cometidos ao longo desse processo. (1) A sobrevivência a toda essa pressão pela busca da identidade é recompensada pela experiência e pela consolidação do conhecimento. Indivíduos mais idosos tendem a errar menos, a sofrer menos para tomar uma decisão qualquer. Além disso, há um fortalecimento espiritual que resulta em uma maior liberdade de ação e numa atitude mais positiva e confiante diante daquilo que no passado gerou angústia. Portanto, tornar-se idoso pode ser visto como uma recompensa da própria vida para aqueles que sabem chegar a esse patamar da existência.
Comumente existe a tendência a se enxergar juventude e felicidade como duas irmãs que caminham sempre juntas. Contudo, basta correr o olhar pelo teatro da vida para perceber que (2) isso não é inteiramente verdade. Há toda uma gama de exemplos que podem ser citados para demonstrar que a felicidade é tão somente um estado de espírito. Existem muitos jovens e até mesmo crianças que são fustigados por uma espécie de tristeza visível a todos. Em contrapartida, há idosos que irradiam em suas ações vigor, dinamismo e alegria, muitas vezes fazendo-se supor que são mais jovens do que a idade que possuem. A vida apresenta momentos de alegria e tristeza. Se não há como se evitarem os maus momentos, a felicidade, pelo menos, é uma questão de escolha, algo que jamais será regulado pela faixa etária.
Como disse Guimarães Rosa na voz de um de seus mais ilustres personagens, "Viver é muito perigoso". A cada rua que se atravessa, a cada esquina que se dobra, o inesperado está à espreita. Isso, entretanto, não é razão para que alguém se esconda do porvir, mesmo porque há perigos que não se transformam em acidentes. (3) O envelhecimento é algo natural e inevitável; não se pode fugir dele. Mas, diferentemente de muitos acidentes, é algo que pode ser previsto. Sendo apenas mais um aspecto dessa vida tão múltipla, o melhor é transformar o medo em uma atitude preventiva, cultivando bons hábitos para que se alcance essa fase com saúde e lucidez. Isso pode permitir que alguém continue a gozar plenamente tudo de melhor que existe na vida.
O homem se esforçou muito (e continua a se esforçar) ao longo dos séculos para desvendar os mistérios que envolvem o problema da existência. Graças a todo esse esforço, a humanidade obteve resultados animadores no campo da longevidade, que hoje já é uma realidade para muitos. Sob essa perspectiva é que a maturidade física deve ser encarada. Assim é que a velhice pode ser vista como uma vitória. Portanto, em vez do conhecido temor e da melancolia tão associadas a essa fase, há na verdade muito o que se festejar quando se alcançam idades mais avançadas.


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Formas de autoengano
Prof. Marcelo F. de Menezes

De maneira geral, costuma-se admitir que a velhice é uma fase de maturidade espiritual, de consolidação do conhecimento e valorização da experiência; que essa é uma fase na qual pode haver ainda felicidade, pois ser feliz é uma opção que independe de idade, e que basta cultivar bons hábitos para se ter uma velhice saudável. Contudo essas afirmações são somente uma forma bem-intencionada de mascarar uma dura realidade. Na verdade os problemas relacionados ao envelhecimento são graves, irreversíveis e desanimadores. (1) Ser idoso é quase o mesmo que estar morto; a felicidade não é exclusividade dos jovens, mas (2) é bem mais fácil ser feliz durante a juventude, quando se tem saúde e vigor físico. (3) Sob esse ponto de vista, temer a velhice é algo justificável, na medida em que esse temor pode nos impelir a viver mais intensamente cada momento, já que o envelhecimento e a sua consequência natural, a morte, são mesmo inevitáveis.
É sempre interessante conhecer pessoas idosas que aparentam vigor físico e boa disposição. Isso parece reforçar a ideia de que é plenamente possível conservar a energia da juventude à medida que os anos avançam. No entanto, ainda que, durante um período, isso possa ser demonstrado, (1) o tempo é o senhor soberano das forças físicas e da saúde. Quando se é jovem, as palavras cansaço e dor quase não são ouvidas. Tem-se disposição de sobra para a atividade que se quiser praticar. Já na velhice, as oportunidades estão sempre restritas ao potencial de um corpo cansado, insuficientemente sustentado por sombras de músculos e ossos frágeis. Aliado a esse fator, a perda paulatina da participação dos sentidos no dia a dia transforma a vida numa batalha ingrata. E, com relação a esses problemas, a maturidade espiritual pouco ou quase nada pode.
Os publicitários sempre se apressam em exibir senhores e senhoras lépidos, risonhos, em atitudes pertinentes às crianças, quase em êxtase nirvânico em propagandas promovendo planos de saúde, bancos, cosméticos e vitaminas. Vendem a ideia de que é na velhice que se aprende finalmente a viver, que a felicidade está presente ainda nessa fase. Mas (2) as frustrações, os medos, a ansiedade, as decepções não desaparecem de suas vidas só porque chegaram aos oitenta, noventa anos. É bem mais fácil a superação desses problemas durante a juventude, enquanto ainda se tem tempo de sobra para se desviar o curso das adversidades. Portanto, é bem mais fácil ser feliz aos vinte, trinta, no máximo quarenta anos que no final da vida.
Todos pensam que o temor à morte é algo injustificável, que deve ser ignorado ou até mesmo vencido. Mas (3) o medo, sob um aspecto biológico, é algo saudável, pois prepara os indivíduos para uma reação diante de um perigo iminente. A vida na Terra é algo curto demais; nada mais justo que alguém tema por perder algo tão maravilhoso e único. A questão está em que esse medo não deve gerar paralisia, mas, sim, uma atitude de afirmação da vida. Por isso é tão importante que ele seja visto como um símbolo de que cada um deve viver tudo o que puder da forma mais intensa e ávida que puder. "Carpe diem", diziam os antigos. "Aproveite o dia!", grita a vida. Um pouco de medo pode ser um bom remédio para tirar uma pessoa da imobilidade na qual se encontra, conclamando-a a viver de peito aberto, enquanto durar o vigor da juventude.
Todos são livres para formularem conceitos sobre as vantagens da velhice, acreditarem neles e os divulgarem conforme bem entenderem. Contudo, a realidade, por mais colorida que seja a maquiagem que lhe ponham na face, sempre estará espreitando a todos com seus olhos duramente sinceros. Se a velhice fosse a melhor fase da vida dos seres, a Natureza, que é sábia, os teria feito nascer primeiro idosos, para depois retroceder o relógio biológico de cada um, como o personagem de um famoso filme. Querer que algo seja diferente do que realmente é, infelizmente, não é o suficiente para modificar os fatos.


Comentários

Assumir um posicionamento não significa ignorar o ponto de vista contrário

Como já foi dito anteriormente, os dois textos se valem das mesmas informações para defender posicionamentos opostos com relação ao medo da velhice. Mas como isso é possível sem que o texto fique confuso e incoerente?
Em dissertação, a argumentação tem uma importância fundamental. Saber articular as ideias, ou seja, organizá-las de forma a parecerem naturalmente convincentes é uma condição básica, e isso demanda conhecimento, visão crítica e habilidade linguística para lidar justamente com os chamados articuladores sintáticos. Por essa razão, as conjunções desempenham um importante papel na construção da coerência textual. Leia o seguinte trecho retirado de Formas de autoengano:


Os publicitários sempre se apressam em exibir senhores e senhoras lépidos, risonhos, em atitudes pertinentes às crianças, quase em êxtase nirvânico em propagandas promovendo planos de saúde, bancos, cosméticos e vitaminas. Vendem a ideia de que é na velhice que se aprende finalmente a viver, que a felicidade está presente ainda nessa fase. Mas (2) as frustrações, os medos, a ansiedade, as decepções não desaparecem de suas vidas só porque chegaram aos oitenta, noventa anos. É bem mais fácil a superação desses problemas durante a juventude, enquanto ainda se tem tempo de sobra para se desviar o curso das adversidades. Portanto, é bem mais fácil ser feliz aos vinte, trinta, no máximo quarenta anos que no final da vida.”

Para desenvolver o argumento de que é bem mais fácil ser feliz durante a juventude, quando se tem saúde e vigor físico, o autor não ignorou o posicionamento contrário, destacado em verde no texto, mas partiu dele para apresentar o seu próprio ponto de vista. Isso é uma estratégia argumentativa pela qual se antecipa o argumento oposto para refutá-lo. E como é feito isso? No exemplo citado, pelo uso da conjunção adversativa mas, cuja função é justamente unir ideias opostas, dando destaque àquela por ela introduzida, que, no texto, está em azul. Assim, obtém-se o efeito persuasivo de que a ideia apresentada por último tem mais peso argumentativo; é, portanto, mais convincente que a primeira. A conclusão, introduzida pela conjunção conclusiva portanto, reforça ainda mais o ponto de vista assumido, como que colocando um ponto final à discussão.
O mesmo procedimento se verifica em A vitória da Natureza, agora logicamente com as ideias invertidas:

Comumente existe a tendência a se enxergar juventude e felicidade como duas irmãs que caminham sempre juntas. Contudo, basta correr o olhar pelo teatro da vida para perceber que (2) isso não é inteiramente verdade. Há toda uma gama de exemplos que podem ser citados para demonstrar que a felicidade é tão somente um estado de espírito. Existem muitos jovens e até mesmo crianças que são fustigados por uma espécie de tristeza visível a todos. Em contrapartida, há idosos que irradiam em suas ações vigor, dinamismo e alegria, muitas vezes fazendo-se supor que são mais jovens do que a idade que possuem. A vida apresenta momentos de alegria e tristeza. Se não há como se evitarem os maus momentos, a felicidade, pelo menos, é uma questão de escolha, algo que jamais será regulado pela faixa etária.

A estratégia argumentativa da conjunção adversativa contudo é a mesma, mas agora ela introduz a ideia que no outro texto foi refutada, a saber, de que a velhice é uma fase na qual pode haver, sim, felicidade, pois ser feliz é uma opção que independe de idade. Assim, o que antes tinha menos importância, agora adquiriu força quase que incontestável.
Como você pode facilmente constatar, não há muito segredo em se articularem as ideias para se montar uma argumentação coerente. É preciso, sim, ter o mínimo de conhecimento do emprego das conjunções e, antes de tudo, saber qual o posicionamento que se quer defender.

Argumentos coerentes, pertinentes e relevantes resultam de uma visão crítica que se baseia na realidade

De nada adianta utilizar palavras bonitas se elas revestem ideias vazias de comprovação na realidade. Isso significa que, para convencer, é preciso levar em consideração a realidade do tema tomado como problema na dissertação.
Dessa forma, assumir um posicionamento requer um compromisso por parte de quem argumenta por meio das ideias expostas. O texto deve ser uma espécie de identidade de quem o escreveu, o que significa que não se pode falar qualquer coisa de qualquer jeito. Às vezes, alguns temas, como o medo da velhice, possibilitam-nos assumir posicionamentos opostos, mas, para isso, é necessária uma argumentação lúcida, que revele maturidade argumentativa por parte de quem escreve, já que a dissertação é um tipo de texto racional, que se baseia fundamentalmente em provas, testemunhos, experiências de vida facilmente comprovadas. E é isso que podemos encontrar nos parágrafos a seguir, retirados de A vitória da Natureza (A) e Formas de autoengano (B), respectivamente:

A - “Como disse Guimarães Rosa na voz de um de seus mais ilustres personagens, 'Viver é muito perigoso'. A cada rua que se atravessa, a cada esquina que se dobra, o inesperado está à espreita. Isso, entretanto, não é razão para que alguém se esconda do porvir, mesmo porque há perigos que não se transformam em acidentes. (3) O envelhecimento é algo natural e inevitável; não se pode fugir dele. Mas, diferentemente de muitos acidentes, é algo que pode ser previsto. Sendo apenas mais um aspecto dessa vida tão múltipla, o melhor é transformar o medo em uma atitude preventiva, cultivando bons hábitos para que se alcance essa fase com saúde e lucidez. Isso pode permitir que alguém continue a gozar plenamente tudo de melhor que existe na vida.

B - Todos pensam que o temor à morte é algo injustificável, que deve ser ignorado ou até mesmo vencido. Mas (3) o medo, sob um aspecto biológico, é algo saudável, pois prepara os indivíduos para uma reação diante de um perigo iminente. A vida na Terra é algo curto demais; nada mais justo que alguém tema por perder algo tão maravilhoso e único. A questão está em que esse medo não deve gerar paralisia, mas, sim, uma atitude de afirmação da vida. Por isso é tão importante que ele seja visto como um símbolo de que cada um deve viver tudo o que puder da forma mais intensa e ávida que puder. "Carpe diem", diziam os antigos. "Aproveite o dia!", grita a vida. Um pouco de medo pode ser um bom remédio para tirar uma pessoa da imobilidade na qual se encontra, conclamando-a a viver de peito aberto, enquanto durar o vigor da juventude.”

Argumentos bem-desenvolvidos garantem a progressão

Convencer pelos argumentos não é uma tarefa impossível, mas exige de quem se propõe a fazê-lo uma imersão no problema, de modo que o leitor perceba, a partir da leitura do texto, uma entrega por parte de quem o produziu. E esse efeito só é atingido se sinceramente houve essa entrega. Como perceber isso? Simples. Leia os parágrafos abaixo:

A - “Quando jovem, o ser humano passa por uma série de desafios para a construção e para o estabelecimento de sua personalidade diante do mundo. A insegurança e o medo são inimigos presentes a todo instante. Muitas dúvidas surgem nessa fase, e é apenas normal que erros sejam cometidos ao longo desse processo. (1) A sobrevivência a toda essa pressão pela busca da identidade é recompensada pela experiência e pela consolidação do conhecimento. Indivíduos mais idosos tendem a errar menos, a sofrer menos para tomar uma decisão qualquer. Além disso, há um fortalecimento espiritual que resulta em uma maior liberdade de ação e numa atitude mais positiva e confiante diante daquilo que no passado gerou angústia. Portanto, tornar-se idoso pode ser visto como uma recompensa da própria vida para aqueles que sabem chegar a esse patamar da existência.

B - “É sempre interessante conhecer pessoas idosas que aparentam vigor físico e boa disposição. Isso parece reforçar a ideia de que é plenamente possível conservar a energia da juventude à medida que os anos avançam. No entanto, ainda que, durante um período, isso possa ser demonstrado, (1) o tempo é o senhor soberano das forças físicas e da saúde. Quando se é jovem, as palavras cansaço e dor quase não são ouvidas. Tem-se disposição de sobra para atividade que se quiser praticar. Já na velhice, as oportunidades estão sempre restritas ao potencial de um corpo cansado, insuficientemente sustentado por sombras de músculos e ossos frágeis. Aliado a esse fator, a perda paulatina da participação dos sentidos no dia a dia transforma a vida numa batalha ingrata. E, com relação a esses problemas, a maturidade espiritual pouco ou quase nada pode.”

Por um acaso, ao ler cada um desses parágrafos, alguma ideia lhe pareceu sem explicação ou mesmo “forçada”? Provavelmente não foi essa sua impressão, e sabe por quê? Porque o produtor não se privou de explicitar, explicar, desenvolver o argumento, desmembrando-o em ideias secundárias, mas perfeitamente decorrentes dele. O leitor como que é conduzido por um raciocínio que o transporta sem rodeios nem subterfúgios ao longo do texto. As ideias vão sendo acrescentadas de maneira lógica e, por efeito de estratégias argumentativas, natural, e o texto vai adquirindo conteúdo. Isso é o que chamamos de progressão textual.

Concluir um texto é reafirmar o posicionamento, acrescentando um comentário

De tudo o que foi exposto, o que se pode concluir? Ao chegar ao final do texto, o leitor espera do produtor um parecer definitivo e sincero a respeito do tema. A conclusão deve ser, assim, uma retomada da introdução com um tom de encerramento. Por essa razão, cabem reflexões pessoais, ainda que sem marcas de primeira pessoa. Veja nos parágrafos abaixo:

A - “O homem se esforçou muito (e continua a se esforçar) ao longo dos séculos para desvendar os mistérios que envolvem o problema da existência. Graças a todo esse esforço, a humanidade obteve resultados animadores no campo da longevidade, que hoje já é uma realidade para muitos. Sob essa perspectiva é que a maturidade física deve ser encarada. Assim é que a velhice pode ser vista como uma vitória. Portanto, em vez do conhecido temor e da melancolia tão associadas a essa fase, há na verdade muito o que se festejar quando se alcançam idades mais avançadas.”

B - “Todos são livres para formularem conceitos sobre as vantagens da velhice, acreditarem neles e os divulgarem conforme bem entenderem. Contudo, a realidade, por mais colorida que seja a maquiagem que lhe ponham na face, sempre estará espreitando a todos com seus olhos duramente sinceros. Se a velhice fosse a melhor fase da vida dos seres, a Natureza, que é sábia, os teria feito nascer primeiro idosos, para depois retroceder o relógio biológico de cada um, como o personagem de um famoso filme. Querer que algo seja diferente do que realmente é, infelizmente, não é o suficiente para modificar os fatos.”

Não se esqueça de, ao final, escrever o título

Embora seja a primeira informação de um texto, aconselha-se que o título seja o último elemento a ser elaborado. Isso porque, já tendo definido o tema e o posicionamento, fica mais fácil se criar o título, que deve ser curto e, no caso da dissertação, se possível resumir o tema e, ao mesmo tempo, revelar o posicionamento, como fazem os bons editoriais de jornal.
Por exemplo, os títulos A vitória da Natureza e Formas de autoengano geram uma expectativa no leitor que vai se confirmar posteriormente com a leitura. No primeiro, a Natureza, metáfora para a própria vida, ser vitoriosa significa, aplicando-se ao tema, a vitória da pessoa mais velha, que, ao viver mais longamente, venceu a morte por mais tempo. Já no segundo, a ideia de que a velhice não é algo positivo é sugerida pelo substantivo autoengano.

 Esses foram alguns aspectos dos quais é necessário se ter conhecimento para se redigir uma dissertação satisfatória. Existem ainda muitos outros que oportunamente comentaremos neste blog. Para conhecê-los, basta continuar acessando o LetrasEEARtes. Até a próxima postagem.

(*) Refere-se o sinal à omissão do nome de uma instituição militar de ensino.