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Três temas descritivos desenvolvidos em esquema básico para você ler e guardar

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Tema 1: O torcedor fanático se dirigia para o estádio de futebol.

O gigante "viking"
Marcelo Ferreira de Menezes

Para o brasileiro o carnaval é a comemoração mais empolgante do ano. É quando ele coloca sua fantasia e sai pelas ruas numa explosão de bom humor. Só as finais dos campeonatos de futebol se comparam a esse momento de euforia e descontração. Em uma das finais do Campeonato Carioca, vi um torcedor que, pela extravagância com que se vestia e brincava, chamava a atenção de todos.
Acompanhado de um barulhento grupo de amigos, ele, cantando e gesticulando, seguia rumo ao estádio. Sua proeminente cabeça se erguia acima das dos demais e ostentava um prateado e reluzente chapéu “viking”, adornado por dois gigantescos chifres. Este lhe caía muito bem, já que esse torcedor tinha um corpo descomunal, típico desses históricos guerreiros, e usava bigodes ruivos, tão ruivos quanto sua volumosa cabeleira de fogo. Seus olhos expressavam uma espécie de fúria que contrastava com as pilhérias atiradas aos membros da outra torcida, deixando claro seu espírito brincalhão. Com uma bandeira verde e vermelha lhe servindo de capa, calçava sandálias de tiras de couro e expunha as pernas brancas como o mármore por meio da saia escocesa que lhe cobria até os joelhos.
Pulava o tempo todo, dando murros no ar ou fingindo torcer o pescoço de algum adversário imaginário, demonstrando a confiança de se sagrar vencedor naquele dia. Ria muito e, vez por outra, embolava a bandeira na mãozorra, juntando-a ao peito e fingindo chorar de amor pelo time. Imediatamente, soltava um forte urro rumo ao céu e, como uma fera prestes a atacar, cantava o hino de seu time a todo fôlego. Mesmo com a aparência assustadora, atraía as crianças que, num misto de assombro e curiosidade, seguiam a mesma direção. Algumas foram até içadas aos seus ombros e sacudidas com alegria no ar pelo inquieto e eufórico gigante, que espargia simpatia para todas as direções.
E eu que me considerava um torcedor fanático, nesse dia percebi que nunca passei mesmo de um comportado e tímido menino. Pude ver, então, com assombro como a emoção e o amor por um time podem transformar física e psicologicamente uma pessoa. O gigante “viking” será sempre minha referência do que é ser de verdade fanático por um time.



Imagem meramente ilustrativa

Tema 2: Descreva o rancho dos alunos da (*) durante o almoço num dia de semana.

O rancho dos alunos da (*)
Marcelo Ferreira de Menezes

Ser aluno da (*) não é uma missão nada fácil. Ao longo de toda a semana, somos exigidos quase que durante todas as horas do dia nas mais diversas atividades. Há uma hora, entretanto, que é um verdadeiro acalento para nosso doído estômago: a hora do almoço, quando somos recebidos pelo ansiado rancho dos alunos.
Ao se abrirem as duas enormes portas azuis de madeira, o delicioso aroma dos saborosos pratos que ali nos aguardam vem nos dar as boas vindas. O espaço é amplo para abrigar toda a tropa de famintos guerreiros que ali vêm restaurar as forças. Amplas janelas ladeiam o ambiente, deixando a luz do meio-dia se espreguiçar nos metais das bandejas e talheres dispostos sobre as toalhas brancas. Metade da parede é pintada de cinza, e a metade superior, de branco. A austeridade dessas cores, contudo, não impede que ali se verifique uma atmosfera de descontração e satisfação. Em compridos balcões dispostos nos dois lados do salão, a louça espera com passividade a convocação para uma guerra que não mata, mas vivifica. Do alto, o brasão dos especialistas observa tudo com orgulho, como um pai satisfeito com o apetite dos filhos.
Nas bacias de alumínio polido, carnes, arroz, feijão, purês, saladas e massas atraem o aluno com suas serpentes fumegantes. As jarras de suco, gordas como as velhas "mamas" italianas, deixam à mostra, pela intumescência transparente de seu bojo, os saborosos sucos de tangerina, goiaba, abacaxi e caju. Nesses dois conjuntos, os guerreiros matam com gosto duas irmãs indesejáveis que até então os fustigavam: a fome e a sede. O som que predomina no ambiente é o de metal chocando-se com o fundo do prato e, multiplicado por dezenas, faz lembrar o tilintar de um garimpo. Há ainda o balcão de sobremesas; apenas um capricho, já que, quando vão até ele, os guerreiros já não estão mais famintos. Melancias, bananas, goiabadas são disputadas junto com os astros principais: os bolos e os sorvetes.
Ao término desse momento, as mesas exibem exaustas as marcas de um verdadeiro campo de batalha: ossos cobertos de alguns farrapos de carne, restos de grãos esfacelados, guardanapos maculados pela gordura dos molhos, a sangria dos sucos involuntariamente derramados ao longo das toalhas. Marcas de uma guerra que nunca é de todo vencida e, dia após dia, vai se renovar nesse ambiente de aconchego e de fruição dos sentidos: o rancho dos alunos.

* Refere-se à omissão do nome da instituição militar sugerida na proposta.




Tema 3: Quando os aventureiros chegaram àquela ilha, sentiram um intenso arrepio. A paisagem era assustadora.


A Ilha da Caveira
Marcelo Ferreira de Menezes

A tripulação do Dragão dos Mares já estava à beira da loucura. Cinco meses tendo como visão apenas o silêncio do oceano era mesmo de enlouquecer qualquer um. Aliás, fora a própria loucura que os levara até ali: o cobiçado tesouro da Ilha da Caveira. O mapa dizia que já estariam perto de seu destino. Com efeito, naquele dia desembarcaram na misteriosa ilha.
Era manhã ainda, mas uma bruma densa e cinza envolvia o macabro cenário, fazendo parecer que a noite já se instalara. Ao vencerem essa bruma, os aventureiros se depararam com imensos e negros rochedos em forma de terríveis criaturas abismais. Havia, ao longo de toda a praia, coqueiros mortos que se assemelhavam a mãos cadavéricas prestes a tomar suas vidas. A areia era uma mistura pegajosa de lama avermelhada e ossos de todos os tamanhos, e assim o era em função de inúmeros cadáveres em putrefação que ali jaziam. Tal era o estado desses corpos, que já não era possível se dizer a que organismos tinham pertencido. Uma serra intimidante e de vegetação espessa era recortada num céu tristemente roxo. O cume dessa serra cuspia, numa gargalha atroz e furiosa, o magma da terra, como se as entranhas da ilha estivessem se revirando.
Cavernas para todos os lados alertavam que não valeria a pena procurar o baú com o tesouro. Frente a cada uma das entradas, corpos humanos decapitados estavam empalados em estacas monumentais. Todos os crânios que então foram apartados dos corpos aos quais pertenciam formavam um muro de quilômetros de comprimento. Tal muro parecia percorrer a ilha em toda a sua extensão, já que essa imagem se perdia no horizonte para o qual se estendia. Não chegaram a ver os habitantes desse horroroso lugar. Mas, de algum ponto escondido no meio da floresta que avançava rumo ao vulcão, puderam ouvir um canto fantasmagórico e hipnotizador, ritmado por tambores que soavam como verdadeiros trovões. Eram talvez milhares de vozes de tal maneira enlouquecidas, que os aventureiros foram curados imediatamente da insanidade em ali terem ido parar.
A volta para casa não seria rápida. Levariam mais três meses, seguindo a rota certa à saudosa terra da qual partiram. Mesmo assim, o oceano não mais lhes oferecia medo. Pelo contrário, a paz e o silêncio daquelas águas salgadas eram agora motivo para acreditar que estavam seguros. E, para que tivessem certeza de que nenhum outro ser humano tentaria novamente tal loucura, queimaram o mapa que um dia os levou até Ilha da Caveira. 

O esquema básico na descrição (Em 23/08/13)

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Um esquema é uma ferramenta com a qual alguém pode organizar melhor um determinado trabalho a ser feito ou visualizar com mais precisão as partes que compõem determinado dispositivo ou sistema.

Esquemas podem ser bastante úteis no caso da necessidade de se escrever um texto descritivo ou mesmo um dissertativo. No caso das descrições, Branca Granatic, em seu livro Técnicas Básicas de Redação, recomenda o esquema básico de quatro parágrafos, e é sobre ele que vamos falar agora.

Em situações de avaliação redacional, por exemplo, o esquema básico permite que se trabalhe com ordem, o que significa uma economia de tempo. Além disso, a principal vantagem é a de oferecer a quem redige a possibilidade de estabelecer uma estratégia para a organização hierárquica e espacial de suas ideias. O redator pode contar então com um molde por meio do qual ele visualiza previamente as partes que irão compor seu texto, o que garante o domínio de saber o que deve baixar em cada espaço de sua folha.



Tipos de esquema na descrição

Pessoa: emprega-se quando o objeto da descrição é uma pessoa ou qualquer ser que seja passível de ser personificado (objetos animados e inanimados).

Ambiente: emprega-se quando o objeto da descrição é o espaço interno de uma edificação qualquer.

Paisagem: emprega-se quando o objeto da descrição é o espaço externo, natural ou urbano, de uma região.

          Para qualquer que seja a proposta, o resultado será um texto de quatro parágrafos. 



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Esquema básico de descrição de pessoa

1° parágrafo: coloca-se aqui o contexto (de maneira geral, situa-se o observador no espaço e se apresenta a pessoa a ser descrita);

2° parágrafo: descrição física (combinando denotação e conotação); aqui o redator trabalhará com um repertório de nomes que identifiquem as partes de um corpo, aliando ainda informações sobre postura e indumentária. 

3° parágrafo: descrição psicológica. Nesse momento o domínio na identificação dos múltiplos estados psicológicos que podem acometer alguém é decisivo.

4° parágrafo: desfecho do texto, retomando os elementos do primeiro parágrafo ou não. É importante ressaltar nesse momento o sentido que a experiência na contemplação do objeto deixou no observador.




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Esquema básico de descrição de ambiente

1° parágrafo: coloca-se aqui o contexto (de maneira geral, situa-se o observador no espaço e se apresenta o ambiente a ser descrito);

2° parágrafo: descrição geral do ambiente (piso, paredes, luz, atmosfera, cores, sons, cheiros, etc);

3° parágrafo: detalhes de elementos interessantes na cena (mobília, espaços peculiares, detalhes importantes do ambiente; foco mais fechado);

4° parágrafo: desfecho do texto, retomando os elementos do primeiro parágrafo ou não. É importante ressaltar nesse momento o sentido que a experiência na contemplação do objeto deixou no observador.




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Esquema básico de descrição de paisagem

1° parágrafo: coloca-se aqui o contexto (de maneira geral, situa-se o observador no espaço e se apresenta a paisagem a ser descrita);

2° parágrafo: descrição geral (o que pode ser visto à longa distância: estado do céu, serras, vegetação, casario, edificações mais altas, etc.)

3° parágrafo: detalhes do que se vê à média e curta distância (objetos, pessoas, cenas, construções mais relevantes. Atenção: o foco é a paisagem);

4° parágrafo: desfecho do texto, retomando os elementos do primeiro parágrafo ou não. É importante ressaltar nesse momento o sentido que a experiência na contemplação do objeto deixou no observador.

       Em nossa coluna A palavra é toda sua, há diversos exemplos de textos descritivos que foram escritos nos moldes do esquema básico. Leia-os para uma maior compreensão do assunto. 

         Para encerrar, é bom ressaltar que texto descritivo é uma interessante ferramenta para o desenvolvimento da imaginação criadora e para o aperfeiçoamento da literariedade. Muitos recursos oferecidos pela linguagem podem ser empregados nele, como o uso de comparações e metáforas, por exemplo. Em suas próximas descrições, que tal procurar aplicar o esquema básico? Você verá que é fácil, e o resultado, bastante harmônico.        

Por onde eu começo? (Em 23/08/13)

marcelosatiro.blogspot.com


Dicas para a introdução do texto descritivo


       Em quase tudo aquilo que deve ser feito, considera-se sempre o primeiro passo o mais difícil de todos. Na composição de um texto, essa mesma impressão se repete. Assim é que nos acostumamos a ouvir de nossos alunos que a introdução é a parte mais difícil da redação. Por isso vamos dar aqui algumas dicas de como se iniciar um texto, no caso o descritivo.

Seguindo as recomendações feitas na postagem anterior, vamos considerar que estejamos trabalhando com o esquema básico de descrição de pessoa e o tema é Faça a descrição de uma bailarina no momento de sua apresentação.

Na introdução do texto descritivo, o redator deve procurar ser breve e objetivo. Ela deve conter alguns elementos a partir dos quais o leitor possa compreender sobre o que especificamente tratará aquela redação. É claro que, pelo fato de a banca examinadora ter elaborado a proposta,  a dedução é a de que avaliador conhece bem o tema. Mas você não pode pensar assim. O que se espera é que o resultado, o texto propriamente dito, possa ser lido por qualquer pessoa, mesmo que não tenha conhecimento do tema que o gerou.

Uma boa técnica é dividi-la em três movimentos:

1) Apresentação de quem descreve (ponto de vista).
2) Apresentação do contexto ou da cena em que observador e objeto estavam.
3) Apresentação do próprio objeto, claramente nomeado.


Exemplo:

Sempre me interessei por entretenimentos culturais. Em meus momentos de lazer, quase sempre optei por cinema ou teatro. Mas, naquele final de semana, aproveitei para fazer algo diferente. Comprei um ingresso para assistir a uma companhia de balé russa que se apresentaria no Teatro Municipal. Lá pude testemunhar toda a beleza da bailarina Karina Pavlov.

Não é preciso na introdução nada além disso. Em verdade, ela é bem simples. Não há necessidade de elementos densamente narrativos, já que o resultado a ser atingido é a descrição.

Além disso, perceba que o contexto está claro e que o objeto, uma vez que foi devidamente nomeado, conduzirá a descrição para a pessoa fictícia de Karina Pavlov. Assim, o redator se esquiva do risco de descrever de maneira geral uma bailarina, o que encaminharia seu texto para uma dissertação. Veja:

A dança é a arte da expressão do corpo. Assim como todas as atividades artísticas, a dança é uma linguagem, e uma coreografia pode encerrar todo um discurso por meio de gestos. A bailarina é de fato a figura central dessa arte, que tem no balé clássico sua forma mais sofisticada.

Nitidamente podemos ver que o resultado acima poderia muito bem servir como introdução no caso de um texto dissertativo, mas não no de um descritivo. Isso porque tudo no trecho acima aponta para uma descrição de cunho geral, que toma como base as qualidades comuns a todas as bailarinas. Já o texto descritivo tem como meta a individualização dos objetos por meio de suas características únicas, ou seja, aquelas qualidades que diferenciam um objeto dos demais de sua espécie. 

Veja agora outros exemplos de introdução e que trabalham os mesmos elementos contextualizadores.


Descrição de uma biblioteca pública municipal.



Minha infância foi marcada pela limitação de recursos de meus pais. No entanto, tive força de vontade para nunca esmorecer nos estudos. Por não termos como comprar livros, só pude contar com o auxílio de um lugar para mim mágico, onde eu encontrei todo o conhecimento do qual necessitava: a biblioteca pública de meu bairro.



Descrição da paisagem de São Paulo, vista da janela de seu quarto.

cidadedesaopaulo.olx.com.br

Eu havia acabado de passar no vestibular, e era necessário abandonar minha pequena cidade para frequentar a faculdade que escolhera. Mudei-me para a maior cidade da América Latina. Apesar do medo que senti de morar sozinho em uma grande cidade como São Paulo, a vista de meu quarto me acalmava, além de me instruir sobre os costumes do paulistano.



Descrição de uma antiga cidade submersa no oceano.

saibatananet.blogspot.com

A profissão de oceanógrafo me brindou com muitas paisagens de intensa vida e rara delicadeza. A cada mergulho que faço em meu pequeno submarino de pesquisas, deparo-me com pequenas e grandes descobertas que, mesmo não o sendo para o mundo, serão sempre para mim. No entanto, naquele ano, participei de uma descoberta fantástica e que transformou por completo as bases da história. Eu e minha equipe, mergulhando nas águas do Oceano Atlântico, descobrimos sem querer as ruínas da mítica Atlântida.

A ferramenta principal do redator é a sua imaginação. É necessário que o redator a coloque a seu serviço, mas sem exageros e rigorosamente cumprindo com o que especifica o tema. Assim, já que o que se espera é um texto de ficção, ou seja, não essencialmente verídico, não há problema em se trabalhar na introdução com alguns elementos que auxiliem a visualizar melhor a cena na qual supostamente o observador esteve em contato com o objeto.

Tenha em mente sempre que, como estamos falando de esquema básico, imediatamente no segundo parágrafo, seja qual for o caso, o redator deverá partir para a descrição do objeto indicado pela proposta, limitando-se a descrever o que viu. 


Os detalhes fazem toda a diferença (22/08/11)

 
Vanessa Nix
            

           Conforme já comentamos na análise da postagem anterior, a descrição não é uma enumeração exaustiva de detalhes. Pressupõe observação seletiva para captar as características mais expressivas do objeto observado, ou seja, aquelas que mais impressionaram a percepção sensorial do observador, responsáveis pela construção da imagem retratada.
          O exercício da descrição é, pois, um exercício de verbalização das impressões. Aquele que se propõe a descrever uma pessoa, um ambiente ou uma paisagem se vê, assim, diante da missão de transformar em PALAVRAS as suas sensações corporais a fim de formar um quadro ou uma cena. Mas, diferentemente destes, que possibilitam a quem os vê observar todo o objeto praticamente de uma só vez, o texto vai apresentando ao seu leitor o ser retratado gradativamente, linha a linha, de modo que o leitor vai construindo a imagem aos poucos, por partes. E isso, obviamente, exigirá um trabalho mais cuidadoso com a linguagem.
           Você não sabe como? Calma! É por isso que estamos aqui, para ajudá-lo nessa tarefa. Você já deve ter ouvido falar em frases nominais. E para que elas servem mesmo? Vamos recordar juntos.
Repare nestas frases: Adriano é encantador. Maria Júlia está tranquila. Fernando continua atencioso. Mariana parece contente. O que elas têm em comum? Isso mesmo! Todas possuem verbo de ligação, que são: é, está, continua e parece. Mas que efeito eles provocam? Como o próprio nome nos revela, esses verbos servem para ligar o predicativo, ou seja, a qualidade do sujeito ao sujeito e realçam, portanto, as qualidades do ser. Desse modo, quando dizemos Adriano é encantador. Maria Júlia está tranquila. Fernando continua atencioso. Mariana parece contente, esses enunciados estão traduzindo uma visão estática do mundo; é como se fosse uma fotografia. (MESQUITA, 1994, p. 381). Estou vendo cada um desses seres parados, possuidores de uma qualidade: Adriano encantador. Maria Júlia tranquila. Fernando atencioso. Mariana contente.
Assim, quando se deseja ressaltar uma qualidade ou um estado de um ser a fim de caracterizá-lo, um dos recursos de que a língua dispõe é a chamada frase nominal. Por essa razão, elas costumam aparecer em textos descritivos. Essas frases podem também assumir outra estrutura; muitas vezes o verbo não vem explícito, podendo ser facilmente deduzido pelo contexto, como se pode observar no exemplo a seguir:
O mendigo apresentava todas as marcas que o tempo e o sofrimento lhe impuseram: olhos profundos como a noite, cabelos negros oleosos, dentes amarelados pelo tabaco, pele castigada pelo sol, mãos e pés encardidos pela fuligem. Tinha como amigos apenas seus três cães.

Assim dispostas no período, as frases nominais sem verbo desempenham uma função sintática específica e constituem o chamado aposto enumerativo, utilizado para enumerar as "marcas que o tempo e o sofrimento lhe[ao mendigo] impuseram" e colaboram para formar um retrato do mendigo. Veja o mesmo trecho reescrito com verbos: (seus) olhos (eram) profundos como a noite, (seus) cabelos (eram) negros oleosos, (seus) dentes (eram) amarelados pelo tabaco, (sua) pele (era) castigada pelo sol, (suas) mãos e pés (eram) encardidos pela fuligem. Tinha como amigos apenas seus três cães.
Mas, atenção! Dependendo de como essas frases aparecem no período e de onde se localizam no texto, elas podem, na verdade, prejudicar a fluência das ideias e, com isso, comprometer o estilo. Observe as mesmas frases nominais transcritas no texto abaixo:
Caminhando apressadamente como fazia todos os dias no horário do almoço, passei, como de costume, por aquele beco estreito que me servia de atalho. Não esperava, no entanto, me deparar com aquela figura humana que mais parecia o retrato da tristeza e melancolia: um mendigo.
Com olhos profundos como a noite, cabelos negros oleosos, dentes amarelados pelo tabaco, pele castigada pelo sol, mãos e pés encardidos pela fuligem. O chinelo de couro já sem tiras como um velho clamando sua aposentadoria. O chapéu cansado de esperar por esmolas. Observava a todos, sem ser observado por ninguém.
As frases nominais agora se situam no início do segundo parágrafo do texto, que, conforme o esquema básico (também já comentado neste blog), corresponde ao primeiro parágrafo do desenvolvimento, onde se encontram as características físicas da pessoa. Introduzidas pela preposição com, passam a funcionar como adjunto adverbial e, por esse motivo, requerem, no mesmo período, um sujeito e um verbo que o acompanhem. Qual a função de um adjunto adverbial sozinho num período? Gramaticalmente falando, um adjunto adverbial isolado não compõe uma frase e, portanto, não possui sentido completo.
Mas, peraí! Não está claro que se trata das características do mendigo, mencionado no final do parágrafo anterior, o qual corresponde à introdução do texto? Qual o problema, então, de se romper com as regras gramaticais e se criar um estilo original?
De fato, são inúmeros os recursos estilísticos que rompem com as normas gramaticais e que, dependendo do contexto, se consagram como verdadeiras criações literárias. Mas, para que surtam o efeito desejado, a intenção artística tem de estar muito bem clara a fim de que não seja mal interpretada. Acontece que, num texto de aluno, do qual não se espera, por sua condição de "aprendiz", construções muito inusitadas porque estas pressupõem total domínio gramatical, produções desse tipo não são previstas e, por essa razão, não devem ser aceitas.
O aconselhável nesses casos é seguir o que dita a norma padrão e obedecer às regras de constituição da frase. Isso sem contar o fato de que é preciso se compor uma imagem do objeto retratado. Se a enumeração de detalhes não tiver uma função sintática clara na frase, dificilmente ela constituirá um retrato. Por isso, prefira as frases mais curtas, se possível com verbo explícito, e tente organizar as ideias em pequenas tomadas, de maneira que, ao final, elas formem um todo harmonioso dentro de um quadro maior. Que tal praticar agora?
Aproveitando aquela enumeração, divida-a em períodos de estrutura sintática completa, como, por exemplo, a que se segue: Com olhos profundos como a noite, parece não fixar o olhar em nenhum ponto específico. Seus cabelos negros oleosos confundem-se com sua barba densa, a qual, por vezes, revela dentes amarelados pelo tabaco. Na pele castigada pelo sol, notam-se cicatrizes de uma vida difícil, sustentada por mãos e pés encardidos pela fuligem.
Você concorda que, da maneira como foi reescrito, esse trecho parece mais significativo? E sabe por quê? Porque agora os detalhes, inseridos em períodos fluentes (formados por orações com sujeito e predicado) e bem-articulados (graças a pronomes e preposições), assumem contornos distintos, que compõem um quadro maior, no caso aspectos físicos predominantemente da cabeça.
Assim como um pintor, para compor o seu quadro, mistura cores e utiliza pincéis e utensílios os mais variados a fim de produzir os efeitos desejados, o escritor também deve dispor de todos os recursos da língua para produzir um texto rico e expressivo, capaz de traduzir em palavras o que o corpo capta por meio das sensações.
Pense nisso!