O que deve conter a introdução

          Conforme combinado, daremos agora as respostas ao que foi pedido na postagem anterior.
          Como primeiro passo, solicitou-se que o assunto fosse identificado. Logo de início, é possível perceber que os textos tratam da velhice.


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          Ótimo. Já sabemos qual é o assunto. Mas limitar-se a ele ainda é insuficiente para se definir um posicionamento, pois é necessária uma abordagem dentro do assunto que dê margem a análise e discussão. Afinal, o que está sendo proposto para se discutir com relação à velhice?
          Para ter certeza da abordagem feita, você deve selecionar as palavras-chave. Então vamos lá!
          Em I e em II, podemos selecionar as seguintes palavras: envelhecimento, degeneração física, morte, idosos, maturidade espiritual, consolidação do conhecimento, valorização da experiência, felicidade, idade, temor, fuga, atitude preventiva, bons hábitos, velhice, dura realidade, problemas, jovens, juventude, saúde, vigor físico.
          O passo agora é relacioná-las entre si para se chegar ao tema.
          Todas elas (as quais, diga-se de passagem, são impreterivelmente substantivos, sendo alguns acompanhados de adjetivos ou locuções adjetivas) estão, de alguma forma, ligadas à ideia de velhice, no que se refere quer a aspectos positivos, quer a aspectos negativos dessa fase da vida humana. Feita essa seleção, retorna-se, então, aos textos a fim de se encontrar alguma frase que contextualize, justifique o emprego dessas palavras. Veja: Em I, o trecho "todos temem o envelhecimento", na primeira linha, é bastante significativo. Em II, há uma frase igualmente esclarecedora: " temer a velhice é algo justificável".
          Diante da evidência das frases, ancorada numa leitura crítica e seletiva, chegamos finalmente ao tão procurado tema: o medo da velhice. A fim de que não pairem quaisquer dúvidas a respeito disso, é interessante que você formule uma pergunta a partir do tema: Os problemas que envolvem o envelhecimento humano devem motivar qualquer tipo de temor?
          Para respondê-la, você deve fazer uma breve consideração sobre as principais questões que envolvem o problema exposto. Nesse momento é importante considerar todas as nuances da questão e investigar o seu conhecimento prévio sobre o tema, sua experiência de vida, as informações factuais e teóricas sobre ele, dados comprováveis, senso comum, etc. Com isso, você descobrirá a sua opinião a respeito do tema, que nada mais é do que um ponto de vista.
          E então? Qual o posicionamento em I e em II? Faça a pergunta Devemos temer o envelhecimento? aos textos e encontre alguma frase que lhe sirva de resposta.
          Por exemplo, em I, o trecho "... apesar de todos os problemas a que estão sujeitos os idosos, essa é uma fase de maturidade espiritual, de consolidação do conhecimento e valorização da experiência..." pode ser considerado uma resposta negativa à pergunta, o que revela um posicionamento segundo o qual não se deve temer a velhice.
          Aproveitando a pergunta anterior, fazemos outra iniciando com Por que... : Por que não devemos temer o envelhecimento? A(s) resposta(s) a essa pergunta constitui(em)-se no(s) argumento(s).
          Agora que você já sabe o assunto, o tema e o posicionamento do texto I, fica fácil encontrar os argumentos. Basta ler novamente o texto com cuidado, atentando para o uso coerente das conjunções e locuções, que desempenham uma função crucial na construção da coerência textual, sobretudo em dissertação. E é isso o que faremos neste momento:

          I- De uma maneira geral, todos temem o envelhecimento. Isso é algo perfeitamente compreensível, uma vez que ele pressupõe mesmo uma acentuada e irreversível degeneração física, assinalando que o indivíduo talvez se encontre mais próximo da morte. Contudo, apesar de todos os problemas a que estão sujeitos os idosos, essa é uma fase de maturidade espiritual, de consolidação do conhecimento e valorização da experiência; é uma fase na qual pode haver, sim, felicidade, pois ser feliz é uma opção que independe de idade. Além disso, todo temor é uma fuga, e não se pode fugir do envelhecimento; o melhor é assumir desde cedo uma atitude preventiva, criar bons hábitos, para que se esteja preparado para quando, e se, essa fase chegar.

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          Logo no início do texto, deparamo-nos com uma expressão (De uma maneira geral) que, em razão do sentido que encerra, tem por função atribuir à ideia por ela introduzida o valor de opinião consensual. Assim, o efeito é o de que a maioria das pessoas considera que o envelhecimento é temido por todos. Em seguida, o produtor do texto apresenta uma justificativa, (uma vez que) para tal consenso, que é, portanto, um argumento contrário ao seu: "ele [o envelhecimento] pressupõe mesmo uma acentuada e irreversível degeneração física, assinalando que o indivíduo talvez se encontre mais próximo da morte". No entanto, o emprego da conjunção adversativa contudo e da locução prepositiva com valor concessivo apesar de quebra com essa linha de raciocínio ao introduzir uma ideia oposta à expressa anteriormente, criando-se uma expectativa no leitor de que o posicionamento adotado é oposto ao da maioria, fato que se confirma na oração principal, constituindo-se, ela própria, em um argumento: [porque] 1. "essa é uma fase de maturidade espiritual, de consolidação do conhecimento e valorização da experiência".
          A oração seguinte é igualmente um outro argumento que justifica o posicionamento adotado: [porque] 2. "é uma fase na qual pode haver, sim, felicidade, pois ser feliz é uma opção que independe de idade". E finalmente a expressão além disso acrescenta um último argumento para se defender a opinião: [porque] 3. "todo temor é uma fuga, e não se pode fugir do envelhecimento".
           Vamos agora para o texto II?
          Primeiramente, devemos encontrar uma frase que nos aponte o posicionamento assumido, servindo de resposta à pergunta elaborada a partir do tema. E a frase é esta: "temer a velhice é algo justificável". De imediato, certificamo-nos de que a opinião é oposta à do texto I, revelando um posicionamento de acordo com o qual devemos sim temer a velhice. Logicamente, os argumentos não poderão ser os mesmos, e, mais uma vez, devemos recorrer às conjunções para encontrá-los:

          II- De maneira geral, costuma-se admitir que a velhice é uma fase de maturidade espiritual, de consolidação do conhecimento e valorização da experiência; que essa é uma fase na qual pode haver ainda felicidade, pois ser feliz é uma opção que independe de idade, e que basta cultivar bons hábitos para se ter uma velhice saudável. Contudo essas afirmações são somente uma forma bem-intencionada de mascarar uma dura realidade. Na verdade os problemas relacionados ao envelhecimento são graves, irreversíveis e desanimadores. Ser idoso é quase o mesmo que estar morto; a felicidade não é exclusividade dos jovens, mas é bem mais fácil ser feliz durante a juventude, quando se tem saúde e vigor físico. Sob esse ponto de vista, temer a velhice é algo justificável, na medida em que esse temor pode nos impelir a viver mais intensamente cada momento, já que o envelhecimento e a sua consequência natural, a morte, são mesmo inevitáveis.

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           Novamente o texto se inicia com uma expressão (De uma maneira geral) que introduz a opinião colocada estrategicamente pelo produtor do texto como consensual a respeito da velhice. Mas atenção! Os argumentos agora se inverteram. O que em I serviu como argumento para sustentar a opinião do produtor do texto, em II se refere justamente ao ponto de vista considerado da maioria das pessoas. Opondo-se a este, podemos enumerar os seguintes argumentos: 1. ser idoso é quase o mesmo que estar morto; 2. a felicidade não é exclusividade dos jovens, mas é bem mais fácil ser feliz durante a juventude, quando se tem saúde e vigor físico (aqui a adversativa é coerentemente empregada, uma vez que destaca o argumento que sustenta o novo posicionamento); 3. esse temor pode nos impelir a viver mais intensamente cada momento, já que o envelhecimento e a sua consequência natural, a morte, são mesmo inevitáveis.

          Veja só quanta informação importante se pode extrair de apenas um parágrafo, que, no caso, é o da introdução do chamado esquema básico da dissertação, adotado no Curso de Redação da (*).
          Falaremos mais desse esquema, quando apresentarmos os outros parágrafos desse texto numa próxima postagem.

Postado em 08/03/2011.

(*) Refere-se o sinal à omissão do nome de uma instituição militar de ensino.