Interpretação
de temas de relato
O primeiro passo para se fazer uma interpretação adequada do
tema de um relato é compreender as partes que compõem o tema e suas respectivas
funções.
Vejamos, por exemplo, os temas a seguir.
Escolha
um dos temas abaixo e redija um relato, atentando para o padrão culto de
linguagem.
Tema 1: Um taifeiro se dirige
ao Oficial-de-Dia para contar o que fez um soldado no rancho durante um momento
de fúria.
O
quê?
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Quebra
de mesas e cadeiras
|
Quem?
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Soldado
e taifeiro
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Onde?
|
Rancho
dos soldados
|
Quando?
|
No
jantar
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Qual
narrador?
|
1ª
pessoa
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Descrição:
|
Descreva
psicologicamente o soldado no seu momento de fúria. E também o rancho, após o
ocorrido.
|
Discurso:
|
Utilize
obrigatoriamente o discurso direto e/ou indireto.
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Tema
2: Um
policial militar reporta ao delegado de uma pequena cidade uma ocorrência.
O
quê?
|
Avistamento
de uma criatura extraterrestre
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Quem?
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Morador
de uma pequena cidade e a criatura
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Onde?
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Pátio
do estacionamento de um supermercado de uma pequena cidade
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Quando?
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Ao
entardecer de um dia de domingo
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Qual
narrador?
|
3ª
pessoa
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Descrição:
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Descreva
a criatura, aliando aspectos que a distingam de um ser humano.
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Discurso:
|
Utilize
obrigatoriamente o discurso direto e/ou indireto.
|
Procedendo-se a uma leitura global dos temas, percebe-se que
ele é composto de duas partes bem distintas: uma orientação acima do quadro e o
quadro com algumas informações.
Vejamos, agora, cada uma dessas partes.
As orientações “Um taifeiro se dirige ao Oficial-de-Dia para
contar o que fez um soldado no rancho durante um momento de fúria” e “Um policial militar reporta ao delegado de
uma pequena cidade uma ocorrência” correspondem ao que se pode chamar de situação comunicativa, ou seja, o
contexto extratextual em que supostamente o relato em questão foi produzido.
Essa situação comunicativa compõe-se basicamente de um emissor, ou seja, o produtor do relato,
e de um receptor, isto é, aquele a
quem se destina o relato, o leitor do relato, podendo, eventualmente, conter
também o objetivo de se redigir o
relato. Mas naturalmente essa é uma situação hipotética, imaginária na qual
VOCÊ, aluno, deverá assumir a posição do EMISSOR.
Já as informações constantes do quadro dizem respeito aos elementos do relato ─ personagem(ns) (quem?), fato (o quê?), tempo (quando?), lugar
(onde?) e narrador ─, ou seja, o
contexto intratextual, a estrutura do relato propriamente dita, além de algumas
informações adicionais, como descrição e discurso, as quais, embora não se refiram à estrutura, fazem parte
do conteúdo intratextual.
Diante disso, como se deve proceder? Bem, os elementos
extratextuais (emissor, receptor e objetivo do relato), embora NÃO necessariamente
apareçam explícitos no texto, são essenciais para a organização dos elementos
intratextuais do relato (personagens, fato, tempo, lugar e narrador) e das
informações adicionais (descrição e discurso), bem como para o nível de
linguagem utilizado.
Voltemos, então, ao primeiro tema. De acordo com a situação
comunicativa, o emissor do relato é o
taifeiro, e o receptor, o
Oficial-de-Dia. Pois bem, VOCÊ, aluno, deverá assumir a posição de quem? Isso
mesmo! Você deverá assumir a posição do EMISSOR, nesse caso, do taifeiro. Então
nem o taifeiro nem o Oficial-de-Dia podem aparecer no texto do relato, correto?
Depende. Primeiramente você deve ver qual tipo de narrador o tema determina.
Para este tema, o narrador deve ser em 1ª pessoa. O que isso significa? Isso
significa que você deverá redigir o relato COMO SE VOCÊ FOSSE O TAIFEIRO,
utilizando marcas gramaticais de primeira pessoa, como pronomes pessoais em
primeira pessoa (eu, me, nós, nos),
pronomes possessivos em primeira pessoa (meu(s,)
minha(s), nosso(s), nossa(s)), além de verbos em primeira pessoa quando as
ações se referirem ao narrador.
E os elementos do quadro? Eles devem aparecer explicitamente
no relato? SIM! No caso do tema em questão, o taifeiro, além de ser o próprio narrador, é também um dos
personagens juntamente com o soldado e, portanto, deve figurar no texto. Os
demais elementos, como rancho dos
soldados (lugar), jantar (tempo)
e quebra de mesas e cadeiras (fato)
devem igualmente aparecer no relato e, de acordo com o esquema para relato,
eles devem ser apresentados logo no primeiro parágrafo, podendo ser acrescidos
de informações que determinem um pouco mais esses elementos, como horário, nome
e idade dos envolvidos, identificação do rancho e outras que você considerar
pertinentes.
Nos dois parágrafos subsequentes, que correspondem, segundo
o esquema, ao desenvolvimento, você deverá acrescentar as informações
descritivas solicitadas no tema, sem se esquecer de utilizar o discurso. Uma
vez que os principais elementos foram apresentados na introdução, você pode
acrescentar outros, se desejar e considerar necessário.
Mas ATENÇÃO! Não é permitido mudar o fato em nenhum momento
do relato, nem mesmo no último parágrafo, no qual se encontra o desfecho. A
solução ou a possível solução para o fato não deve anulá-lo ou mesmo
transformá-lo de tal maneira que ele fique em segundo plano. Isso pode
configurar abordagem parcial ou mesmo fuga ao tema.
LEMBRE-SE:
o relato gira sempre em torno de um fato; se o fato for mudado, o tema não foi
corretamente abordado, entende?
Agora que você já sabe como deve proceder para fazer uma
correta interpretação de um tema de relato, veja um exemplo de como seria um
relato adequado ao primeiro tema.
Ataque de fúria no rancho dos soldados
Nossa unidade militar tem servido de exemplo para as
demais unidades da Força e da Federação quanto a seu nível de organização,
trabalho harmônico e convivência pacífica entre o efetivo. E, desde que nela
passei a servir como taifeiro, essa tem sido a fama que nos antecede no
universo militar. Em razão disso, é com um misto de assombro e pesar que venho
relatar a Vossa Senhoria a surpreendente situação que envolveu os comensais
presentes no jantar do dia 11 de agosto, no rancho dos soldados, mais
precisamente às 19h. Nesse específico momento, o espaço, antes acolhedor e
ordeiro, foi alvo de um ataque de fúria, deflagrado por um dos membros de nosso
efetivo, o Soldado Bashar Alênia, que deixou prejuízos materiais ao ambiente e
colocou em risco a integridade física dos presentes.
O jantar seguia em sua normalidade, quando o Cabo Anselmo
chamou minha atenção para o comportamento estranho do Soldado Bashar enquanto
ele aguardava sua vez na fila para se servir. Este dizia frases sem sentido e
gesticulava vigorosa e largamente, como se falasse com alguém a seu lado. Em
alguns momentos, batia com força um dos pés no chão e mexia com insistência em seu
celular. Dirigi-me até ele e, retirando-o discretamente da fila, levei-o para a
porta de entrada da cozinha, perguntando-lhe se estava se sentindo bem. Ele me
respondeu com ironia, dizendo que tudo dependeria de mim, se eu iria ou não
continuar a aborrecê-lo. Lembrei-lhe de que seu comportamento poderia lhe
trazer consequências administrativas e penais, e foi nesse instante que ele,
empurrando-me para o lado, agarrou uma das cadeiras e começou a golpear uma das
mesas.
Imediatamente os que ali estavam sentados se levantaram e
correram em direção a um lugar mais seguro. Como a cadeira se partiu, o Soldado
Bashar pegou uma das pernas de ferro, que se soltou da estrutura, e começou a
golpear as estantes onde ficam armazenados os pratos e os copos. Cacos de vidro
voaram para todos os lados e se espalharam por todo o chão. Com o pânico
instaurado nos demais, a ordem ficou comprometida; mesas e cadeiras foram
derrubadas e a louça com comida se espalhou por todos os lados. Alguns praças
tentaram se aproximar do Soldado enfurecido para tirar de suas mãos o pedaço de
ferro da cadeira, mas sem sucesso; a tarefa era arriscada. Em poucos segundos,
com uma expressão de extrema fúria no olhar, vermelho e suando muito, o Soldado
Bashar prosseguiu com a quebradeira, partindo os móveis de madeira e também as
vidraças que conseguiu alcançar. Gritava a plenos pulmões que estava cansado da
vida no quartel e que um tenente estava o perseguindo. Exclamava que queria
justiça e ainda que desejava falar com o Comandante naquele instante. Em determinado
momento, pareceu cansado e abaixou os braços, olhando de forma fixa para o
chão. Imediatamente, pulei por trás dele e o derrubei. O Cabo Anselmo, vendo
minha reação, veio em meu socorro e, juntos, imobilizamos o Soldado Bashar
Alênia.
Após o ataque aqui relatado, o agressor foi detido e
encaminhado para o galpão de detenções, permanecendo em reclusão lá ainda.
Consultado sobre as razões que o levaram a agir daquela forma, não manifestou
intenção de comentar, insistindo apenas que seria seu direito permanecer
calado. Tendo sido esses os fatos ocorridos durante o jantar da referida noite,
apresento este relato para sua apreciação, no intuito de que este possa
contribuir para a ciência do que se passou e na aplicação de medidas que possam
reparar o dano causado ao rancho dos soldados e à nossa unidade militar pelo
transtornado soldado.
E quanto ao segundo tema? O primeiro passo é verificar qual
é a situação comunicativa do relato a ser elaborado.
No tema 2, o emissor é
um policial militar que redige um relato para o delegado, que é, portanto, o receptor. Você, aluno, deverá assumir a
posição do emissor, correto? Então, nesse caso, você vai redigir o relato COMO
SE FOSSE O POLICIAL MILITAR. Você já sabe que o receptor, ou seja, o delegado,
não aparecerá no texto. Mas, e o policial militar? Ele aparecerá no texto em
primeira pessoa? Calma! Agora é a hora de verificar qual é o tipo de narrador
determinado no tema.
Conforme o quadro, o narrador é em terceira pessoa. Assim, o
policial militar NÃO deverá aparecer no texto como o observador do fato ou como
um dos personagens que tenha tomado parte do conjunto de ações relatadas. Nesse
sentido o relato resultante não poderá exibir marcas de primeira pessoa que
revelem isso, embora você assuma a posição do policial.
Então:
NARRADOR
EM 1ª PESSOA: o emissor PODE aparecer no texto.
NARRADOR
EM 3ª PESSOA: o emissor NÃO pode aparecer no texto como alguém que participa
das ações relatadas.
E os
demais elementos do quadro? Assim como no tema 1, eles OBRIGATORIAMENTE devem
aparecer no relato. De preferência, como sugere o esquema, eles são
apresentados logo no primeiro parágrafo. Os dois parágrafos seguintes
desenvolvem alguns desses elementos, acrescentando-lhes informações descritivas
e discurso, e o último parágrafo, que é a conclusão, apresenta um desfecho, uma
solução ou possível solução, SEM, contudo, MUDAR O FATO, que, no tema 2,
refere-se ao avistamento de uma criatura extraterrestre.
Vejamos, então, o que seria um relato adequado ao tema 2.
Estranha
criatura em Vargem Pequena
Na 1ª Delegacia de Polícia da cidade de Vargem Pequena, o
movimento, durante o plantão de domingo, dia 15 de abril, transcorria sem
sobressaltos. Foram registrados apenas casos simples, como um desentendimento
entre vizinhos e um arrombamento seguido de furto num sítio na região do Rio
dos Motas. No entanto, no final desse dia, por volta das 17h30min, adentrou
este departamento, bastante transtornado emocional e psicologicamente, o senhor
Eliote Naves do Firmamento, de cinquenta e um anos, taxista, morador desta
cidade, que relatou ter tido contato com uma criatura, segundo ele, com
características de um extraterrestre. Com dificuldade na articulação das
palavras, o depoente detalhou os insólitos fatos a respeito desse suposto
contato, situação esta que a seguir se relata na íntegra com vistas à
apreciação de Vossa Senhoria.
Disse o senhor Eliote que, por volta das 16h50min, após
ter feito o que seria sua última corrida do dia, decidiu, antes de seguir para
sua residência, ir até o Supermercado Lua e Estrela, situado na Avenida Roswell, lote 51, a fim de comprar provisões
para a semana que se iniciaria. Por ser quase final de expediente, contou o
depoente que o estacionamento do ponto comercial estava praticamente vazio,
tanto quanto também o estava o interior da loja. Tendo selecionado suas compras
e feito o devido pagamento, o senhor Eliote diz ter saído com suas sacolas e se
dirigido a seu táxi, estacionado no fundo do pátio. Ao se aproximar de um
container de lixo de grande porte, a testemunha relatou ter percebido
intensas luzes pulsando intermitentemente na lateral do artefato. Estas, por
sua vez, projetavam-se ao longo da parede do prédio, o que, segundo ele,
causou-lhe alguma preocupação, posto que imediatamente, conforme informou,
cogitou ser um curto-circuito em alguma instalação elétrica. Ao dar a volta na
caçamba de lixo, deparou-se com a referida criatura sentada no chão e encostada
na lateral da lixeira.
Segundo o seu relato, o ser não se assemelhava a nenhum
animal conhecido da fauna terrestre e, apesar de, corporalmente e quanto à
presença de cabeça e membros, guardar alguma semelhança com o corpo humano,
esta não ia além disso. Ou seja, a criatura tinha duas pernas, dois braços, com
mãos e dedos, e uma cabeça, mas, em suas palavras, a pele e a carne eram
transparentes, o que permitia a vista dos órgãos internos e do sistema de veias
e artérias. A consistência do conjunto era gelatinosa. “Parecia uma água-viva”,
informou o depoente. As luzes, segundo o que descreveu, vinham dos órgãos
internos, que emitiam uma pulsação por meio de flashes coloridos
intensos, predominantemente amarelos e azuis. Os olhos eram grandes e verdes,
dispostos nas laterais do crânio e tinham o mesmo formato dos olhos dos
répteis. Não possuía narinas e sua boca, segundo observou, era uma espécie de
tromba, com a qual a criatura com dificuldade emitia um som agudo, semelhante a
uma roldana não lubrificada, nas palavras do senhor Eliote. Percebendo que a
criatura iniciara uma tentativa de ficar de pé, o depoente disse ter largado
suas sacolas e corrido, a pé e em pânico, diretamente para a 1ª DP, que dista
cinco quarteirões do local da suposta ocorrência.
Tendo sido acolhido o relato do senhor Eliote em todos os
detalhes por ele informados, foi passado um rádio para a viatura de área mais
próxima. Esta, após uma varredura no local do dito avistamento e nas imediações
do supermercado, informou não ter tido nenhum sinal da criatura nem de qualquer
outra situação anormal pelo bairro. Ainda assim, dado o insólito de toda a
situação e ao estado emocional da testemunha, transmite-se a Vossa Senhoria esta
ocorrência, no intuito de submetê-la à sua apreciação e, se assim exigir o
caso, embasar futuras investigações.