Relato
O
relato é um tipo de texto em cuja organização a sequência
temporal é um elemento central. Dessa forma, ele sempre se refere a
um fato o qual pressupõe, além de tempo, outros elementos, como
espaço, ação, personagens e narrador.
Primeiramente,
é imprescindível se admitir que todo e qualquer fato é passível
de análise e de síntese; em outras palavras, todo fato pode ser
desmembrado em inúmeras ações intimamente a ele relacionadas que
mantêm entre si uma relação de anterioridade e de posterioridade
e, ao contrário, ser reduzido ao menor número possível de eventos
que se conectam a ele. Isso porque, no mundo real, no qual vivemos, o
fluxo de acontecimentos é infinito e ininterrupto. Por exemplo, você
pode dizer simplesmente: Hoje, pela manhã, como habitualmente
faço, arrumei-me, tomei meu café da manhã e dirigi-me ao meu
trabalho.
Mas
você pode desmembrar esses fatos em outras ações. Hoje, ao
abrir os olhos após uma noite de sono restabelecedor, logo pela
manhã, mais exatamente às 6h20min, sentei-me na minha
cama, calcei meus confortáveis chinelos, não sem antes bocejar e me
espreguiçar, fui até ao banheiro, fiz minha ablução matinal,
tirei meu pijama, coloquei meu uniforme para somente então tomar meu
café da manha. Após alimentar-me, escovei os dentes, passei um
perfume, peguei as chaves do carro, tirei-o da garagem e dirigi-me ao
meu trabalho. Lá chegando, estacionei o veículo, tranquei-o, subi
as escadas até chegar à minha sala de trabalho. Ao adentrá-la,
cumprimentei meus colegas presentes, sentei-me à minha mesa, liguei
meu computador e comecei a trabalhar.
E
pode, igualmente, reduzi-los. Hoje, após o café da manhã, fui
trabalhar.
Como
se pode ver, não há um padrão para o encadeamento das ações; o
que determinará a sequência das ações e o ritmo imprimido a elas
ao serem transcritas para o papel será o olhar do narrador, guiado
pelos objetivos e intenções previamente estabelecidos. No caso de
um relato feito para ser avaliado, além das exigências textuais
propriamente ditas (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais,
relações lógicas), é preciso se levar em conta a situação
comunicativa bem como a função do gênero textual em que o relato
se insere.
Assim
o relato contido numa carta pessoal de um filho a uma mãe em que ele
conta como foi seu primeiro dia de faculdade numa cidade distante vai
diferir bastante em vocabulário e sintaxe, por exemplo, daquele
contido num boletim de ocorrência redigido por um escrivão ao
colher o depoimento de uma vítima de assalto. No primeiro caso, o
relato, escrito em 1ª pessoa, provavelmente possuirá um grau de
informalidade que não deve constar no segundo caso, dada a situação
formal de comunicação em que circula um boletim de ocorrência.
Este, redigido em 3ª pessoa, deve conter informações o mais
objetivas e precisas possível; já na carta pessoal, o relato pode
vir impregnado de emoção e subjetividade, dado o caráter pessoal
do gênero textual em questão, o que interferirá, naturalmente, na
seleção vocabular bem como na construção sintática das frases.
Entretanto,
independentemente do gênero textual em que figura o relato,
interessa-nos em nosso curso reconhecer os traços linguísticos que
caracterizam o gênero textual relato.
Dessa
forma, um relato deve responder às seguintes perguntas:
1.
O quê? (fato): O que
aconteceu. O fato envolve um conjunto de ações devidamente
encadeadas, posto que devem apresentar uma relação lógica entre
si.
2.
Quem? (pessoas): As pessoas
envolvidas no
fato do qual participam praticando ações.
3.
Onde? (espaço): Lugar(es) onde
transcorrem as
ações relacionadas ao fato.
4.
Quando? (tempo): Referência
temporal indicadora do momento e/ou da duração das ações.
5.
Qual narrador (1ª ou 3ª pessoa): A
voz que conta o fato, ou seja, que seleciona as ações e as encadeia
numa relação lógica, segundo a sua perspectiva como participante
do fato e praticante das ações (1ª pessoa) ou observador que não
pratica ações, pois não se envolve no fato (3ª pessoa).
Considere
o seguinte fato: Os
passageiros aterrissaram em Nova York no meio da noite.
Relate-o
do ponto de vista do controlador de tráfego aéreo registrando a
ocorrência a partir do que presenciou da torre de controle e do
que lhe informou o próprio piloto do avião. O narrador deve ser
em 3ª pessoa.
A
exemplo do que foi explicado, desmembre esse fato em outras ações
a ele relacionadas, estabelecendo uma relação lógica, de modo
que se mantenha entre elas uma ordem cronológica de anterioridade
e de posterioridade. Para isso, você deverá acrescentar
informações que respondam às perguntas acima comentadas.
Observação:
Atente para a precisão das
informações e para a objetividade da linguagem, a qual deve
obedecer à norma padrão.
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