"Até que a morte os separe"

Tema:
            “Os casamentos duravam muito mais em épocas passadas, porque os pais escolhiam os noivos para as filhas. Essa era uma prática saudável, que deveria ser resgatada para o bem das famílias” (Ivanilda Cunha, 69 anos, aposentada).

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A duração dos casamentos

Aluna Esther Ribeiro (BSP, Turma Delta/Segunda Série/2011)
Texto postado no dia 13/04/2011

Na sociedade moderna, a maior parte dos casamentos já não dura mais tantos anos quanto já durou no passado. Tornou-se comum ver casamentos que duram apenas alguns meses e pessoas que se casam mais de uma vez. Há quem ainda acredite que a prática de se escolherem noivos e noivas para os filhos possa trazer de volta a fidelidade ao “até que a morte os separe”. Entretanto, essa visão não corresponde à realidade dos fatos. Em épocas passadas, os casamentos duravam mais porque as mulheres eram extremamente dependentes de seus maridos. Além dessa dependência, caso viessem a se separar deles, passariam a ser mal vistas pela sociedade, coisa que, de modo geral, não mais acontece. É válido lembrar também que os noivos eram escolhidos muitas vezes por motivos financeiros; para os pais era inadmissível ver suas filhas perderem bons partidos.
As mulheres contemporâneas são independentes. Muitas moram sozinhas e trabalham, são donas de si mesmas. Apesar de algumas ainda receberem salários inferiores aos dos homens, quando comparados, elas vêm aumentando gradativamente sua presença no mercado de trabalho. E já não é tão difícil encontrar aquelas que recebem até mais que seus maridos. Quando se casam, fazem-no por sua própria vontade, fruto de uma escolha pessoal. A mulher de hoje já não admite facilmente ser controlada ou ter de demonstrar submissão. Essa figura, da mulher submissa aos desejos do marido, ficou para trás. As decisões são tomadas dentro de uma relação que se desenvolve de igual para igual. Homens e mulheres conversam e tomam decisões juntos, visando o bem comum.
A independência financeira da mulher lhe trouxe mais confiança. A mulher não mais tolera a infelicidade conjugal por medo do julgamento de terceiros. Quando se sente insatisfeita no casamento, busca o diálogo e a solução dos problemas. No entanto, se não encontra respostas para seus anseios, é capaz de pôr fim à relação desgastada, enfrentando corajosamente a opinião dos demais. Até porque a sociedade já não imputa mais a culpa pelo fracasso de um relacionamento somente à mulher, como fazia antes.
Um outro fator que propiciava a longa duração dos matrimônios era o fato de os pais não admitirem que suas filhas dispensassem “excelentes partidos”, conforme se dizia. Tais partidos eram tanto melhores quanto maiores fossem suas posses. Ou seja, muitos casamentos eram verdadeiras relações comerciais. Os pais, cientes da dependência da mulher em relação aos maridos, tomavam tal atitude, até para se certificarem de que suas filhas não sairiam de casa para passar por necessidades materiais e financeiras no novo lar, preocupação que até hoje se nota nos pais mais zelosos.
A solução para a maior duração dos casamentos, se é que existe uma, vai além de os pais escolherem os noivos para os filhos, mesmo que se saiba que, de alguma forma, eles podem influenciar ainda na escolha. Talvez seja preciso haver mais respeito como base dos relacionamentos. A sociedade, e principalmente os homens, deve compreender que as mulheres não mais se enquadram no estereótipo do sexo frágil, indefeso; elas são agora uma voz a ser ouvida nas decisões, sejam elas referentes à dinâmica do trabalho, sejam ao âmbito social e, mais ainda, às escolhas relacionadas a sua própria vida, como a de um casamento.