Baseado no poema Pardalzinho, de Manuel Bandeira.
Pardalzinho
Pardalzinho
O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão
A casa era uma prisão.
O pardalzinho morreu
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!
(Manuel Bandeira)
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Questão
de lógica
Marcelo
Ferreira de Menezes
Eu estava na
varanda, acabando de limpar a gaiola de Waldick. Waldick Soriano;
esse era o nome daquele canário belga. Canarinho bom! Era tão
bonito o seu canto, que eu, por diversas vezes, o inscrevi em
concursos e voltei para casa com medalhas, muitas medalhas. Dei uma
tragada em meu cigarro e já ia colocar a gaiola de volta no
prego, quando Sacha, minha filha, veio correndo.
― Papai!
Papai! Olha!
― Mais uma
boneca quebrada, filha? ― perguntei sem me virar.
Quando me
voltei para ela, vi que a pequena carregava um pardalzinho ferido.
― Ah! Você
achou isso ― disse, avaliando as condições da
assustada ave. A asa está quebrada, filha.
― Você
conserta, papai? Conserta?
― Vamos ver,
né, filha? ― eu respondi, quase já prevendo o que
viria.
Durante uma
semana, Sacha se empenhou em cuidados maternais com o pardalzinho.
Dava-lhe comida, água, cobertores, contava-lhe histórias
para dormir, dava-lhe, por que não dizer, seu amor. O bichinho
parecia até que ia melhorando. Mas bicho que nasce livre...
Num domingo o
pardal morreu. Sacha chorou copiosamente.
― É
assim, filha. Agora está melhor para ele.
― Por quê,
papai?
E eu, sem
saber o que dizer:
― Ora...
ora, porque ele voou pro céu dos passarinhos! ― falei
com um entusiasmo meio bobo.
Sacha enxugou
as lágrimas e mirou o céu sem nuvens daquela manhã.
Seu rosto se desanuviou. Já parecia ter outra coisa em mente.
Depois de nós
dois, em nosso jardim, cuidarmos do pomposo funeral do pardalzinho,
com direito a solo de flauta doce, que Sacha exigiu que eu
arranhasse, fui lavar as mãos.
Quando saí
novamente à varanda, meu coração quase pulou
pela boca. Sacha havia subido em um banco, retirado a gaiola de
Waldick da parede e, naquele momento, segurava-a com a portinhola
aberta. Não deu tempo de nada. O canário alçou
voo, contrastando seu corpo amarelo com o anil limpo do céu.
― Sacha! O
Waldick, Sacha! Por que você fez isso?
― Pra ele
fazer companhia ao pardalzinho, papai! Lá no céu dos
passarinhos!
Eu, um pouco,
ou bastante, contrariado, só pude concordar com ela:
― Tá
bom, filhinha. Tudo bem.